quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

São Paulo de Caetano, de beltrano, ciclano e fulano



São Paulo de beltrano, ciclano e fulano. São Paulo de todos nós. Quando penso em música para a cidade de São Paulo, caio em clichê, se é que seja clichê, mas a música que toca em meus ouvidos e cantada por minha voz, é "Sampa" do Caetano Veloso. Logo eu, que não possuo nenhuma afinidade por suas canções, mas mesmo assim essa música me marca.

Claro que não só a mim, deve marcar muitas outras pessoas, como marca época também, tanto que se fosse escrita hoje, talvez ao cruzar a Avenida Ipiranga com a São João, ele não sentiria algo preencher o seu coração e sim sumir de seu bolso, ou ao invés de "a dura poesia concreta de tuas esquinas", descreveria " dura pichação no concreto de tuas esquinas.

São Paulo é grande e muda de forma muito acelerada, sofre uma mutação desenfreada como relata sua música. Me pergunto se hoje os novos bainos apenas passeariam na terra da garoa, ou mergulhariam em suas enchentes assustadoras.

Uma coisa é certa, não só os novos bainos, mas todos podem curtir São Paulo numa boa, que é  uma cidade maravilhosa e muito acolhedora, aliás, como diria Juca Kfouri, fã confesso do Caetano, o único problema de São Paulo é não chamar-se Corinthians.

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O Tenente


Não é porque minha rua é um pouco inclinada ou com grandes obstáculos, mas num pequeno trecho, nunca venci um Mercedes-Benz. Minha missão diária era esperar o caminhão entrar em minha rua e dar início a uma corrida em plena na subida, eu na calçada e ele no asfalto numa disputa injusta é verdade, ele com todos seus cavalos e eu com minhas pequenas e finas pernas de mula.

Essas brincadeiras ficaram para trás, hoje já aceito meus 26 anos, todos morados aqui, na Rua Tenente Godofredo Cerqueira Leite, até hoje não sei bem quem foi esse homem, obviamente um militar, que deve ter honrado as cores da bandeira para ganhar uma rua com seu nome.

Ele de certo não, mas as vezes me pergunto se seus familiares souberam dessa homenagem, esses dias vi uma família fazendo poses para foto aqui, até pensei que pudesse ser parentes felizes por ter seu nome de família eternizado na placa de minha rua. Outras no máximo, tem o nome eternizado no SPC.

A rua até que é grande, tá de bom de tamanho a homenagem, talves um Coronel já chiasse, iria querer no mínimo mais uns 5 quarteirões, um Marechal então, não aceitaria menos que um bairro inteiro, mas o Tenente já deve estar pulando de alegria lá no céu ( Eu acho).

Uma ponta da rua dá para Avenida Sapopemba, a outra ponta dá para o início de uma favela, lá as ruas são bem diferentes da minha, estreitas e mal asfaltadas, então não tenho o que me queixar, tampouco o honrado Tenente.

Outro dia conversava com meu colega que morou no Japão e estava lá ganhando a vida na terra do sol nascente, da Toyota e do Pokémon, ele contou-me que lá muitos dos bairros são verdadeiros labirintos, que as ruas são desconexas e quando você caminha por uma rua achando que irá parar em algum lugar, você simplesmente acaba se perdendo.

A lenda conta, que lá no Japão, isso se deve aos antigos samurais, que construíam seus bairros assim propositalmente, pois quando os inimigos viessem atacar, acabariam se perdendo. Bem parecido com aqui no Brasil, afirmei para ele.

Em um futuro bastante otimista, nossos netos contarão que muitos dos bairros no Brasil, eram chamados de favelas, e tinham também o formado de labirinto, para proteger o comércio dos samurais do tráfico, assim os inimigos fardados se perdiam ao entrar nas favelas.

Também falamos das rivalidades entre nações, um fenômeno cultural, assim como Brasil e Argentina, lá a coisa também pega entre Japão e China, eu particularmente, dou graças a Deus por ser brasileiro e rivalizar com a Argentina, até porque se todos chineses pularem ao mesmo tempo, a terra sairá do eixo e com toda certeza o Japão sumirá do mapa coberto por água. Ainda bem que minha rua fica do outro lado do mundo.